A rega como proteção contra geadas

Por: Carlos Mendonça

Em que circunstâncias podem ocorrer as geadas, como as classificamos em função do seu grau de “intensidade/gravidade” e respetivas consequências.

A geada consiste na formação de uma camada de cristais de gelo na superfície ou na folhagem exposta das plantas devido à baixa temperatura. Pode ser provocada por vagas de frio intenso, irradiação ou evaporação.

Ocorre uma vaga de frio intenso também chamada de “advecção de massa de ar polar”, quando uma massa de ar muito frio se desloca horizontalmente através das isotérmicas de uma região para outra substituindo uma massa de ar mais quente, causando uma queda brusca de temperatura sobretudo nos pontos mais baixos.

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As geadas de irradiação (mais frequentes) resultam do calor perdido durante a noite quando as condições atmosféricas são propícias, o que faz baixar a temperatura das camadas de ar próximas do solo. Quando o arrefecimento é muito forte, o vapor de água contido no ar condensa-se e formam-se gotas de orvalho que podem passar muito rapidamente ao estado de gelo. Também depende da capacidade do solo reter mais ou menos calor, sendo piores os solos arenosos.

As geadas por evaporação podem ocorrer em madrugadas primaveris, onde o aparecimento brusco do sol não sendo ainda suficiente para aquecer o ambiente, provoca a evaporação rápida da humidade acumulada durante a noite sobre as plantas. Como a evaporação de um líquido duma superfície rouba calor a essa superfície, pode ocorrer a formação de geada, agravada se houver correntes de ar que aceleram ainda mais a evaporação.

A intensidade destas geadas, depende directamente da nebulosidade, do vento e do grau de humidade.

Com efeito, se o céu estiver nebulado, uma parte do calor libertado do solo reflecte-se nas nuvens regressando à superfície da terra, diminuindo assim o risco das geadas.

Em algumas circunstâncias, a presença de vento pode diminuir o risco de se formarem geadas, na medida em que vai misturar o ar frio que tem tendência a acumular-se nas camadas baixas, com o ar quente menos denso das camadas superiores da atmosfera, aumentando assim a temperatura média junto ao solo.

Chama-se “geada branca” pela formação dos cristais de gelo produzidos pela congelação do orvalho, ou pela sublimação do vapor de água, sobre as superfícies dos corpos arrefecidos (passagem direta do vapor de água ao estado sólido sem passar pelo estado líquido).

A geada chama-se “geada negra” quando o ponto de orvalho é mais baixo do que a temperatura negativa nefasta atingida pelos órgãos vegetais. Deve-se esta designação ao aspeto necrótico apresentado pelos órgãos vegetais enegrecidos que parecem “queimados”. Note-se que a necrose, sintoma de morte dos tecidos vegetais, pode ocorrer também após uma “geada branca”, que entretanto causou danos irreversíveis.

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A Rega por Aspersão e por Micro-Aspersão, como forma de combater o arrefecimento e os efeitos da geada

Para além dos métodos que se socorrem de aquecimentos e fumos sobretudo em estufas no combate às geadas, há que referir a Rega por Aspersão e Micro-Aspersão, conhecida e utilizada como substituta da chuva necessária ao desenvolvimento das plantas e frutos, como importante meio no combate às geadas.

Esta forma de proteção, baseia-se no facto de a água libertar o chamado “calor latente de solidificação” que é de aproximadamente 80 calorias por cada grama de água, quando gela sobre as plantas.

Compensam-se assim as perdas de calor perdidas por irradiação noturna, mantendo-se as temperaturas das plantas dentro dos limites que estas suportam. O ideal seria que os órgãos vegetais tivessem sempre uma película de água em estado “de congelação”, pois sempre que exista água neste estado, a temperatura não baixa dos zero graus.

Outros fatores concorrem para completar este efeito favorável: A temperatura positiva a que se encontra a própria água, o aumento da condutividade térmica do solo com o consequente ascendente à superfície do calor proveniente das camadas mais fundas e o aumento da humidade atmosférica.

Para ser eficaz, a rega por aspersão deve ser de “cobertura total”, ou seja, deve cobrir permanentemente toda a zona a proteger durante todo o período em que haja risco de formação de geadas. Este é o maior inconveniente deste sistema, devido aos custos elevados do material de rega em si e da adequada central de bombagem, só atenuado pela utilização da rega no período estival, eventualmente para cobrir áreas superiores como instalação móvel ou semi-fixa.

A disposição dos aspersores mais utilizada para optimizar a uniformidade é em triângulo e os compassos vão habitualmente dos 12x12 aos 25x25 m, dependendo da pressão possível ou disponível junto aos aspersores, de modo a termos alcances compatíveis com aqueles compassos.

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É sabido que o ideal é um aspersor ter um raio que atinja o aspersor que lhe está adjacente.

A prática demonstra que são necessários entre 10.000 a 60.000 l/h por hectare, que corresponde a uma pluviosidade de 1 a 6 mm (l/m2), limites estes dependentes das condições ambientais e da quantidade de calor que é necessário fornecer às plantas para que estas se mantenham acima do ponto crítico.

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Como a água que se evapora rouba ao ambiente grande quantidade de calor, em ambientes muito secos é necessário trabalhar com maiores pluviosidades para compensar este facto. O mesmo acontece na presença de ventos.

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Para além dos valores referidos de pluviosidade, é necessário que a rega tenha uma boa uniformidade de distribuição e que as gotículas não sejam demasiado pequenas para não gelarem no ar e não sejam demasiado grandes para não escorrerem pela planta para o chão.

A rega deve ser posta em marcha quando a temperatura estiver dois graus centígrados acima da temperatura crítica. Para tal devem-se utilizar termostatos em posição horizontal, a 40 cm acima do solo para árvores de fruto e 5 cm para culturas baixas. Há ”termostatos húmidos”, que no fundo se obtém pelo envolvimento da ampola de mercúrio por uma flanela mantida permanentemente húmida, onde a temperatura de referência pode baixar um pouco até mesmo aos zero graus, com a vantagem de se poupar energia.

Por outro lado, é fundamental que a rega continue até que o gelo comece a cair das plantas (mais ou menos um grau centígrado), para que o degelo não se faça à custa de calor roubado às mesmas, o que seria contraproducente. Para além disso não se deve interromper a rega por períodos maiores que dois minutos, onde os prejuízos podem ser superiores, comparados com a ausência de rega. Com efeito, interrompido o fenómeno da congelação, porque cessa a água líquida, o gelo continua a arrefecer abaixo dos zero graus.

Pelo exposto, conclui-se que este tipo de instalação deve ser muito cuidado em termos de garantia de continuidade de funcionamento, tanto pelas reservas de água como pela qualidade do material e da instalação a adoptar.

Quando estamos perante culturas muito sensíveis há que ter em conta o peso do gelo sobre os ramos e a folhagem que pode levar à sua quebra, o que nos pode obrigar a optar pela rega sob as copas, apesar de muito menos eficiente.

A prática aconselha a que a velocidade de rotação dos aspersores se situe em um minuto aproximadamente e os aspersores sejam de mola protegida por uma cápsula, para não se formar gelo sobre a mola.

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