«Consideramos fundamental que os agricultores ibéricos tenham acesso a inovação», defende Jorge Silva, da Bayer Ibérica

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O responsável técnico de desenvolvimento da Bayer Ibérica mostra-se convicto no futuro da agricultura de Portugal e Espanha. Em entrevista fala da Bayer CropScience Ibéria e da aposta na investigação e desenvolvimento, área onde querem investir anualmente mil milhões de euros, sobretudo nos «produtos químicos de síntese, os produtos biológicos e as sementes». Jorge Silva defende o acesso dos agricultores à inovação e aponta como desafio dos próximos anos «a necessidade de exportar num contexto de globalização».

Por: Sara Isabel

Agronegócios (AN): A Bayer, e particularmente a Bayer CropScience Ibéria, é uma empresa a que se reconhece facilmente uma preocupação de investimento em Investigação e Desenvolvimento (I&D) para o desenvolvimento de produtos e soluções para a agricultura. Quais os principais produtos desenvolvidos até ao momento?

Jorge Silva (J.S.): A Bayer CropScience é uma empresa de inovação que sustenta os seus pilares num forte investimento em I+D. Ao longo das últimas décadas foram muitos os produtos fitofarmacêuticos, introduzidos nos mercados português e espanhol, contribuindo assim para a evolução das soluções sustentadas para a proteção das culturas e consequentemente para a melhoria quantitativa e qualitativa das produções agrícolas. Em média, nos últimos anos, a nossa empresa pode introduzir no mercado duas a três soluções, anualmente. A título de exemplo, no último ano, foram introduzidas nos mercados de Espanha e Portugal, novos produtos, à base de novas substâncias ativas, tais como Movento O-teq; Luna Previlege, Luna Sensation, Adengo, Flocter, Musketeer, Decis Trap, Sekator, Proteus, Buctril U e Prosaro. Não gostaria, no entanto, deixar de referir como «inovações», a criação da plataforma de serviços (designados em Espanha por AgroServicios) que cada ano se vem consolidando e que são um verdadeiro suporte para os agricultores e para uma atuação responsável por parte da nossa empresa. Refiro-me aos Bayclubes, à Academia em Portugal/Cátedra Bayer em Espanha, Phytobac, Bayer agro.TV, BayProtege de entre outras «soluções» criadas e desenvolvidas como plataformas de suporte.

AN: Pode falar-nos de novos produtos em desenvolvimento?

J.S.: Nos últimos tempos assistimos a uma mudança estratégica na nossa empresa, quanto ao conceito de oferta para o mercado global. Com a aquisição de empresas especializadas nas áreas de produtos biológicos e sementes, a Bayer CropScience consolidou o seu portfolio de soluções integradas e sustentáveis, que desenvolve, regista e comercializa nos diversos mercados. O nosso pipeline de produtos, hoje em dia, assenta na inovação e descoberta de novas famílias químicas, em produtos biológicos para controlo de problemas fitossanitários de importância económica relevante e sementes (atualmente representadas no sector de hortícolas e culturas extensivas). No entanto, para que possam estar à disposição dos agricultores é necessário percorrer um largo percurso de desenvolvimento e realização de estudos que permitam responder às exigências crescentes da legislação. Em média, o desenvolvimento de um produto demora cerca de 10 anos – desde a descoberta até à sua introdução no mercado – e tem um custo aproximado de 200 milhões de euros. Desde sempre e ainda hoje, critérios como a eficácia biológica, tendo consideração em atenção a seletividade para as culturas, para os organismos úteis, novos modos de ação (evitando aparecimento de organismos resistentes), os resíduos e o seu impacto na segurança alimentar, nos aplicadores e no ambiente e a propriedade intelectual continuam a ser fundamentais na hora de decidir por uma linha de investigação.

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Fig. 1 - Engenheiro Jorge Silva, responsável técnico de desenvolvimento da Bayer Crop Science Ibérica.

AN: Quais as mais-valias que a Bayer procura aportar aos seus produtos com o seu esforço em I&D?

J.S.: Desde sempre a Bayer CropScience procura que as suas soluções sejam sustentáveis e contribuam para a resolução dos verdadeiros problemas da nossa agricultura. Assim, a busca de novos modos de ação, de novas soluções biológicas, biotécnicas ou químicas e variedades assenta no trabalho de um vasto número de equipas especializadas e multidisciplinares, cujo resultado são soluções que possam ser integradas num amplo conceito de oferta. Para além disso, existe uma forte componente ou plataforma de serviços à disposição dos nossos clientes e parceiros os quais são a forma tangível de valorizar e divulgar os nossos investimentos em I+D. Na nossa empresa consideramos fundamental que os agricultores ibéricos tenham acesso a inovação, como forma de competitividade frente a concorrentes de outros países e regiões.

AN: Quais as estratégias da empresa para os próximos anos relativamente a projectos de I&D?

J.S.: Como multinacional, estamos sempre dependentes das atividades e descobertas da nossa casa-mãe. No entanto, é nosso dever, estar atentos às necessidades da agricultura do Sul da Europa e, em particular, as da região ibérica e continuar a desenvolver novas soluções integradas para a defesa da nossa agricultura e seus sistemas produtivos. A Bayer CropScience, como empresa multinacional, aproveita também a sua rede mundial de contatos, procurando com eles introduzir diversidade e propostas de conceitos, ideias que se possam ajustar ao desenvolvimento da nossa agricultura. São exemplos as inúmeras vistas técnicas no âmbito da viticultura, fruticultura e hortícolas que temos vindo a organizar nos últimos anos, tanto promovendo visitas a outros países e continentes como recebendo grupos visitantes, a participação de alguns dos maiores especialistas mundiais na área da proteção das culturas, em eventos (Fóruns) de divulgação, ações formativas nas nossas Academias/Cátedras ou a sua colaboração na produção de conteúdos pedagógicos para os nossos Manuais Técnicos ou Filmes temáticos.

AN: A transferência do conhecimento científico para as empresas é um processo fácil? Como atuam?

J.S.: A transferência de conhecimento é fundamental para que a empresa possa ter o sucesso desejado. É complementar à Investigação e ao Desenvolvimento de produtos. De uma forma muito sumária podemos dizer que todos os produtos resultantes da inovação da empresa necessitam ser testados e adaptados nas nossas condições agronómicas. Uma vez conhecidas as suas propriedades, benefícios e riscos, de acordo com a complexa legislação europeia em vigor, terão de ser homologados em cada país. Essas novas soluções em complemento com todos os serviços desenvolvidos poderão ser preciosos auxiliares para a «tomada de decisão» por parte de técnicos e agricultores. Uma parte importante para gerar conhecimento e explorar outras vertentes do conhecimento são as cooperações e projetos que assinamos com Universidades e Centros de Investigação, recorrendo a especialistas de renome. Estas ações permitem-nos gerar informação muito valiosa para a recomendação e tomada de decisão à hora de utilizar as nossas soluções.

AN: O acompanhamento do produto tem também especial relevância para a empresa. Pode pormenorizar?

J.S.: A área de acompanhamento de produtos e a formação sobre o uso seguro, racional e responsável dos nossos produtos num sector cada ver mais profissionalizado merece especial destaque. A nossa empresa tem desenvolvido aplicações, como o VitiPlan e editada literatura técnica – Boletins e Manuais – e produzido filmes temáticos disponíveis no nosso site no canal Bayer agro.TV, com a colaboração de especialistas nacionais e estrangeiros que são referência em ações de formação. Para além disso, aproveitando os seus contatos e cooperações no nosso país, na Europa e noutros continentes têm organizado conferências temáticas ou ações de formação especializadas no âmbito da Academia em Portugal e Cátedra em Espanha, dirigidas a todos os integrantes do nosso sector. Por último, não podemos deixar de referir o capital humano da nossa empresa que é um elemento diferenciador e competente na acessória técnica e, que juntamente com as plataformas atrás referidas, são a nossa forma de transferência de conhecimento.

AN: Qual o valor investido pela Bayer nesta área de investigação e desenvolvimento?

J.S.: A procura por parte dos agricultores de novas soluções da Bayer CropScience produtos químicos e biológicos, assim como de sementes levou a que a empresa decidisse estrategicamente investir em I+D. Segundo dados publicados, durante os próximos anos, a nível global, a Bayer CropScience destinará aproximadamente mil milhões de euros anuais em I+D para melhorar o seu portfolio de soluções. Estas abrangem os três grandes pilares da investigação da nossa empresa: os produtos químicos de síntese, os produtos biológicos e as sementes. Na região Ibéria a Bayer CropScience, dispõe de centros experimentais e de um grupo de colaboradores com responsabilidades nas diversas áreas desde as sementes ao desenvolvimento (estudos biológicos e de degradação de resíduos), e assuntos regulamentares, que tem a tarefa de desenvolver e registar os produtos e soluções que a empresa comercializa na região e que está, diretamente, envolvido em atividades de I+D.

AN: A Comissão Europeia disponibiliza, até 2020, 80 mil milhões de euros para investigação e ciência, dinheiro que será gerido por um português, Carlos Moedas. A Bayer considera que Portugal está preparado para esta aposta na ciência do ponto de vista agrícola? Considera que os produtores nacionais estão preparados para aportar este valor à sua atividade?

J.S.: É muito importante que a União Europeia apoie financeiramente a investigação e fomente as parcerias com o mundo empresarial a fim de responder aos desafios da sociedade. É importante que nos nossos países possamos colaborar, consolidar e divulgar o excelente conhecimento científico existente. Mas é também tanto ou mais importante que essa investigação seja aplicada e possa resolver verdadeiros problemas que afetam o sector agrícola e o Mundo Rural. Não podemos permitir-nos a falar linguagens distintas quando o problema a resolver está identificado. Tanto em Portugal como em Espanha existe uma comunidade científica organizada em centros de excelência e conhecimento que, apesar das dificuldades orçamentais, teima em produzir trabalhos de excelente qualidade. É necessário que se abram às empresas e que se discuta e estabeleça um programa conjunto de ação na realização de projetos que tragam um valor acrescentado ao sector agrícola. Tanto em Portugal como em Espanha, a agricultura tem uma vertente cada vez mais profissional pelo que há empresas com massa crítica, mais ou menos disponíveis para poder entrar numa plataforma de I+D+i com Universidades e Institutos científicos de acordo com o plano que a União Europeia pretende fomentar com estes programas.

AN: Como vê o futuro da agricultura ibérica, e em particular a portuguesa?

J.S.: A agricultura, em Portugal, é uma das principais atividades económicas, representando 2,3% do PIB. Nos últimos anos, em Portugal, temos assistido a uma redução do número de explorações agrícolas e a um aumento da área média por exploração. No entanto, a população ativa na agricultura representa ainda, em Portugal, 11,2% (valor elevado quando comparado com Espanha – 4,2% e com a União Europeia, 5,2%). Em Espanha a agricultura representa 2,6% do PIB. A Espanha é um dos mais importantes exportadores de produtos agrícolas a nível europeu e mundial, em particular, em sectores como as frutas e hortícolas. Na nossa latitude cultivamos mais de 70 diferentes culturas e produtos como o vinho, o azeite, as hortícolas, as frutas, de entre outras são o exemplo dessa atividade produtiva. No entanto, não devemos esquecer que a agricultura nestes dois países, para além de ser uma atividade produtiva, é uma forma de ocupação geográfica do território e desenvolve atividades de lazer, como o turismo rural, o que traduz bem o seu carácter multifuncional e importância para a preservação da paisagem e do ambiente. Segundo as estatísticas dentro de umas décadas seremos nove mil milhões de seres humanos no planeta Terra, pelo que a necessidade de produzir alimentos para uma população crescente e urbanizada, num contexto de câmbio climático, com a limitação de recursos naturais (solo, superfície agrícola útil e água) e a necessidade de exportar num contexto de globalização, são os grandes desafios da agricultura nos próximos anos.  Apesar da crise económica, que afeta todos os sectores da atividade, continuo a pensar que agricultura em Portugal e Espanha tem futuro.

AN: A Bayer CropScience pondera submeter projetos a apoios comunitários, no contexto do novo quadro comunitário de apoios para o período de 2014-2020?

J.S.: A maioria dos projetos da Bayer CropScience resulta de fortes investimentos efetuados com capitais próprios. No entanto, continuaremos a estabelecer linhas de cooperação com entidades de investigação, assinando acordos de colaboração e que ponderamos poder submeter alguns projetos que se possam enquadrar nos apoios comunitários à disposição.

AN: A sustentabilidade ambiental é uma das preocupações da empresa? Em que medida?

J.S.: O conceito de sustentabilidade ambiental é fundamental para a Bayer CropScience. Toda a atividade humana é susceptível de impactar na Natureza. Assim, tendo consciência de que somos parte integrante da cadeia agro-alimentar devemos pugnar pela divulgação, respeito e vivência do conceito de sustentabilidade.

AN: Pode dar alguns exemplos?

J.S.: A empresa desenvolveu e divulga, sob um conceito amplo de tutela de produtos (Stewardship), linhas como o BayProtege/Dressocode (sobre os EPI’s – equipamentos de Proteção Individual); Phytobac (uma forma de eliminar de forma biodegradável os efluentes gerados pela lavagem de pulverizadores e outros equipamentos de pulverização); o uso de bicos anti-deriva, por forma a mitigar possíveis derivas das nuvens de pulverização durante os tratamentos fitossanitários; o posicionamento de produtos em produção integrada das culturas (decidindo o momento mais adequado de intervenção fitossanitária baseado no conhecimento da bioecologia dos problemas que afetam as culturas, em ferramentas de ajuda à tomada de decisão); atividades de FoodChain, nas quais se utilizam os produtos segundo as boas práticas agrícolas, sendo monitorizados, para além da incidência de problemas fitossanitários, os auxiliares, e os resíduos por forma a dar uma resposta cabal à cadeia agro-alimentar representada pelas cada vez mais apertadas exigências dos supermercados; o projeto Baydiverdsity, com o qual fomentamos programas de biodiversidade ao nível da exploração agrícola e, por fim, a formação na Academia (em Portugal) e Cátedra Bayer CropScience (em Espanha), procurando estabelecer uma plataforma de transferência de conhecimento, com recurso aos melhores especialistas, nacionais e estrangeiros, de diferentes sectores, para os colaboradores e parceiros da empresa, cumprindo com o nosso desejo de gerar conhecimento e modernizar a agricultura e o mundo rural.

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